:: A utopia de viver
- Vanessa Assunção
- 21 de mar. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de jul. de 2020
Lisboa,
Março 2020
"Tenho o privilégio de não saber quase tudo e isso explica o resto." (Manuel de Barros)
No meio deste teatro do surreal, a minha realidade pessoal tem-me chamado a atenção para como as pessoas vivem encontros e relações tão ausentes da experiência e de si.
Isto porque me tenho apercebido das diferentes personagens que as pessoas têm projectado em mim. Consigo perceber o que as pessoas estão ou não a ver daquilo que lhes mostro.
O que quero dizer é:
Tentem tomar responsabilidade pelos vossos padrões emocionais e de percepção da realidade, e assim começam a viver as experiências mais autenticamente.
Às tantas percebemos que é tudo bastante simples, até - cada um assume-se como é, respeita o espaço do outro (i.e. o seu igual direito a ser), e todos deixamos de tomar tudo como um ataque pessoal (como se fossemos o centro das vidas dos outros).
Depois, a seu tempo, deixaremos de usar máscaras tão diferentes de quem somos, viveremos mais livres e seremos todos bem mais agradáveis e enriquecedores de manter como companhia.
Como resultado, o stress sistémico baixa, e ficamos todos também mais saudáveis e endocrinamente equilibrados.
Poupamos dinheiro em calmantes, anti-depressivos, álcool, tabaco, drogas recreativas, junk food, cremes para as rugas, máscaras para os papos dos olhos, suplementos para controlo de peso (a menos ou a mais) ou para a queda de cabelo, mais as dermatites atópicas e as inflamações intestinais, etc;
(Para quem não frequenta o meio, existe todo um novo testamento a ser escrito pela comunidade médica e de investigação, no que diz respeito às quase infinitas implicações do stress em todos nós)
E passaremos todos a pensar onde compramos as nossas coisas.
Não tem muito mais graça trocar o nosso dinheiro (materialização do nosso tempo vivido) com gente que se preocupa? Que contribui para essa boa disposição coletiva?
Teremos também todos mais tempo, energia e disposição para fazer amor, e seremos mais prestáveis e bondosos com os outros.
É que assim, teremos mais tempo para os conhecer.
E não seria bem giro um mundo onde tivéssemos tempo e vontade de nos conhecermos uns aos outros? E não fingir com quem não gostamos, ou com quem gostamos muito.
E vamos dizer aquilo que sentimos quando sentimos, com gentileza. E vamos pedir ajuda quando precisamos, e oferecer quando podemos. E vamos assumir também que os outros têm dias maus e dias assim assim. E que as mulheres têm períodos menstruais. E que os homens têm sentimentos.
E que isto tem mais graça com a sua estranheza, e as pessoas também.
E vamos só ser. E continuar a aprender a ser.
E como passaremos todos a fazer mais amor, mais autentica e genuinamente, as relações serão mais honestas e sinceras e muito mais recompensadoras.
E ao contrário do que se fez regra até agora, poderiamos manter o livro aberto ao outro.
Poderiamos jogar com todas as cartas na mesa, só mesmo porque não escondemos nada de nós próprios. Ou porque trabalhamos nesse sentido.
Poderíamos então apenas procurar, sempre com respeito, conhecermo-nos sempre mais, através do que o outro nos faz sentir.
Talvez brevemente...
... quando estivermos todos bem conscientes do nosso tamanho como indivíduos neste mar de universos, que são todas as pessoas do mundo — ou seja,
quando soubermos que:
basta que nos inteiremos das coisas.
basta realizarmos que com poder vem Responsabilidade.
E podemos ensinar isto às crianças, não à réguada mas pelo exemplo.
por Vanessa Assunção
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