:: Junho de 2021 e o Eclipse Solar em Gémeos

— Um Ensaio de Perdão e Rendição ao Mundano

Em tempos onde o termo "despertar espiritual" começa a ser a norma e o rótulo para um novo status quo social, talvez não seja má ideia perguntarmo-nos:

Are we missing the point?

A proposta trazida em tempo de eclipses no eixo sagitário/gémeos, em quadratura a neptuno e pallas em peixes, passa por praticar o discernimento oferecido por vesta em virgem, a completar uma grande quadratura nos signos mutáveis (a cruz mutável representa a relacão/integração do Espírito com a Mente).

Mercurio andará às voltas em gémeos até 7 de julho, re-visitando o grau do ultimo eclipse no dia 2 de julho. Daqui até lá podemos fazer-nos o favor de nos permitirmos a não ter todas as respostas e a estarmos receptivos a alternativas que ainda não conseguimos imaginar, que podem ser bem mais simples e mundanas do que esperamos.

Podemos entretanto fazer uma pausa e refletir ou contemplar de que forma temos usado a nossa fé nos ultimos tempos.

Fazendo uso da confusão que a quadratura a peixes nos pode estar a trazer e do discernimento que a vesta nos está a oferecer, também em quadratura ao eixo dos eclipses e dos nodos lunares, podemos perguntar-nos, por exemplo:

★ e se não houver nada de errado comigo? e se não houver nada a acrescentar? e se a minha maior divindade é a minha humanidade? e se o meu maior tesouro é aquilo de que me envergonho? — olhar para a nossa verdade pessoal de outro ângulo alternativo.

★ os sistemas de crenças, de verdades e de filosofias de vida que tenho usado como referência trazem-me liberdade de ser o melhor que consigo ser em cada momento, enquanto vivo a minha vida humana e aprecio os momentos mais elementares; ou são outras formas idealistas de me auto-punir pelas minhas naturais limitações humanas?

★ estou à procura de ir resolvendo o que preciso resolver, para me sentir cada vez mais em paz e em criatividade com as minhas crises existenciais, ou estou à procura da salvação redentora que me leve a ser alguém que não sou?

★ estou a aceitar o desafio coletivo de assumir a minha liberdade de mente/de pensar/de exercer sentido crítico/de discernir o que se aplica a mim enquanto indivíduo e ao meu caminho, que é inerentemente único mim?

★ estamos todos a abraçar as infinitas diferenças entre nós, como seres humanos, e a aprender com as diferentes perspectivas que nos rodeiam, enquanto respeitamos os valores humanos mais nobres; ou estamos outra vez a tentar uniformizar essas diferenças, obrigando-as a encaixar nos ideais alheios que tomamos como nossos, como tem sido feito nos últimos séculos?

Com os nodos coletivos a marcar a direção evolutiva dos nossos Egos de sagitário para gémeos, desde maio do ano passado, o convite tem sido feito para pormos em questão todas as nossas certezas e dogmas (sagitário) e abrir espaço para entreter diferentes e alternativas perspetivas em simultâneo — aprender e olhar para cada ideia e "verdade" como uma moeda que tem sempre duas faces (um exemplo mundano de "multidimensionalidade").

Este processo tem-se desenrolado de forma única e específica em cada um de nós, e tem abrangido desde as perspetivas mais alargadas e abrangentes — quem acreditávamos ser, o que acreditávamos ser o nosso futuro, quem acreditávamos precisar do nosso lado, o que acreditávamos saber sobre a vida (nossa e dos outros) — até ao nível mais elementar do nosso funcionamento cognitivo.

Talvez este eclipse nos traga a todos o alívio de perceber que quanto mais verdades e conhecimento temos, menos sabemos; de perceber quanto da libertação individual vem de conseguir habitar paradoxos e incertezas; de perceber a diferença entre forçar a experiência a uma verdade e encontrar múltiplas verdades na experiência.

Se calhar, em vez de procurarmos noutros as verdades certas que guiem as nossas vidas e as nossas escolhas — vidas que são únicas a nós e ricas por si só — talvez possamos começar a trazer para cima da mesa a nossa própria verdade, experiência, opinião, perspetiva. Trazê-las com uma mente exploratória e curiosa (gémeos), com a noção de que essa nossa contribuição é nossa e não necessariamente válida para todos com quem nos cruzamos.

Experimentar partilhá-las, não como certezas (sagitário), mas como ideias que querem ser trocadas, ajustadas, experimentadas e ser postas em contraste com outras (gémeos), mais ou menos contraditórias, e ser desafiadas no seu absolutismo e dogmatismo.

O arquétipo de gémeos fala-nos do principio alquímico e mágico de trazer as grandes aspirações ou visões espirituais ao plano humano — se queremos ser mais divinos na nossa experiência terrena talvez não seja má ideia começar por aceitar as nossas limitações humanas. Se queremos experienciar a Verdade, talvez não seja má ideia aceitar que qualquer verdade pessoal é inerentemente limitada ao contexto de vida de quem a profere, e que a Verdade Absoluta só a deus pertence.

Se quisermos alinhar-nos com os movimentos divinos deste momento, se quisermos aproveitar a porta deste eclipse em gémeos, podemos investir a nossa intenção em acreditar que não é preciso acrescentar seja o que for a quem somos. Podemos aceitar a boleia de largar, em vez de acrescentar mais camadas de condicionamento que mascaram e invalidam o que simplesmente é.

Bem hajam ♡