:: Diário 30/31.07 — Lua em Sagitário e o final da pós-sombra de Vénus
- Vanessa Assunção
- 30 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 31 de jul. de 2020
— A Queda dos Muros
Lua 22º Sagitário・oposição・Vénus 22º Gémeos
Marte 18º Carneiro・trígono・Lua 15º Sagitário・trígono・bml 21º Carneiro
Vénus 22º Gémeos・sextil・Marte 18º Carneiro & bml 21º Carneiro
Sol 9º Leão・trígono・Chiron 10º Carneiro

De 29 a 31 de Julho, a Lua estará a atravessar o signo de Sagitário, aplicando uma oposição a Vénus aos 22º de Gémeos, acabada de sair da sua sombra e a desbravar agora os primeiros trilhos depois do seu trajeto retrógrado.
O eixo Sagitário-Gémeos fala-nos não só das crenças que constroem a nossa realidade imediata, mas sobretudo da coragem em falar a nossa Verdade, mesmo que isso signifique que essa nossa realidade pessoal mude para sempre.
Ao formarem aspetos a Marte e à Lua Negra em Carneiro, a Lua e Vénus em oposição ativam a parte de nós onde a nossa Impaciência e Revolta têm sido reprimidas e ignoradas.
O Sol em Leão em trígono a Chiron em Carneiro diz-nos que é suposto doer. Em inconjunção com Saturno em Capricórnio, dá-nos o alento de encarar isto como "growing pains", de perceber que esta dor é só parte do crescimento, tal como os bébés sentem a dor da primeira dentição.
Depois do percurso mais ou menos atribulado de Vénus pela casa de Espelhos que nos mostrou as mentiras que contávamos a nós mesmos sobre aquilo que queríamos ou achávamos que precisávamos, ela prepara-se agora para mergulhar nas águas de Caranguejo (ver Preparação para Vénus em Caranguejo).
Alguns conseguiram já encontrar expressão para a sua Verdade própria no meio da confusão emocional que caracterizou o trânsito de Mercúrio por Caranguejo. Outros têm estado a marinar as conclusões a que chegaram, não sabendo ainda como deitá-las para fora. Outros ainda tentam manter-se em negação, agarrando variadas hesitações.
Continuaremos a enganar-nos se acharmos que podemos continuar a fugir daquilo que realmente sentimos. E com Mercúrio a entrar em Leão, é melhor que aceitemos que a Verdade geralmente tem vontade própria e que fugirmos de nós não é um mecanismo que dure para sempre.
Quem já conseguiu assumir a sua Verdade, nem que seja ao assumir aquilo que não quer mais para si, tem agora a ajuda para começar a dar forma a uma nossa realidade pessoal. Quem quis continuar a ignorá-la pode agora vê-la a surgir na forma de confrontos pessoais, pode deparar-se com escolhas alheias que os vão obrigar a senti-la, ou podem até vê-la a ser traduzida ao nível do corpo físico (Urano em Touro).
Esta passagem da Lua por Sagitário, neste momento concreto de preparação, marca o Cair dos Muros que defendem e escondem essa nossa Verdade Pessoal. Podemos vê-los como muros castradores — sentindo a sua queda como libertação, ou como muros de lamentações — sendo destruídas as zonas de conforto onde nos habituámos a cumprir os nossos calvários pessoais.
Com o trânsito de Chiron por Carneiro e os planetas coletivos prestes a entrar em Aquário, os tempos dos calvários e dos sacrifícios em nome de obrigações fora de nós chegam ao fim.
Chegou o tempo da Responsabilidade Individual. Chegou a altura de assumirmos até que ponto perpetuamos esses calvários porque temos medo de nos libertarmos deles.
Como disse anteriormente, esta não é necessariamente uma altura de acções concretas. Não temos de conseguir ter já um plano para o que vai ser. Pelo contrário, quanto menos certezas tivermos no que está fora de nós, mais alinhados estamos com o processo. As únicas certezas que é suposto termos nesta altura são sobre aquilo que não queremos mais, daquilo que estamos dispostos a perder.
E isto começa por quebrar os silêncios — Do que já estás sinceramente farto? Não só lá fora, mas em ti? O que já não aguentas mais carregar? O que sentes que te está a prender? O que já estás farto de repetir?

Deixo-vos com um excerto pela brilhante e inspiradora Audre Lorde. Espero que a tradução esteja à altura da sua mensagem. Ressalvo apenas que o texto original se dirige à denúncia por parte da Mulher, mas que partilho aqui para todos. Porque chegou a altura do Homem sair da sombra do patriarcado, que também o mantém refém em muitos aspetos.
"Eu iria morrer, mais cedo ou mais tarde, quer tivesse ou não falado. Os meus silêncios não me protegeram. Os teus silêncios não irão proteger-te.
Que palavras não tens ainda? Quais são as tiranias que engoles dia após dia e que tentas tornar tuas, até adoeceres e morreres delas, ainda em silêncio?
Temos sido condicionados socialmente a respeitar o Medo acima da nossa necessidade de Falar.
Comecei a perguntar-me em cada situação 'O que é o pior que pode acontecer se disser esta Verdade?'. Porque, ao contrário do que acontece a mulheres noutros países, quebrarmos o nosso silêncio não nos levará à prisão, ao nosso 'desaparecimento' ou à fuga na calada da noite.
A nossa denúncia irá irritar certas pessoas, classificar-nos como insolentes ou hiper-sensíveis e disromper algumas festas sociais. E depois a nossa denúncia vai permitir que outras mulheres falem, até que as leis sejam alteradas e vidas sejam salvas e o mundo seja alterado para sempre.
Da próxima vez pergunta-te 'O que é o pior que pode acontecer?'. E depois leva-te um pouco além daquilo a que normalmente te atreves. Assim que comeces a falar, as pessoas irão gritar contigo. Elas vão interromper-te, deitar-te abaixo e sugerir que o que estás a dizer é pessoal. E o mundo não vai acabar.
E falar vai ser cada vez mais fácil. E vais perceber que te apaixonaste com a tua visão, que poderias nunca ter percebido que tinhas. E vais perder amigos e amantes, e perceber que afinal não sentes a sua falta. E novos amigos e amantes irão encontrar-te e valorizar-te. E continuarás a flirtar e a pintar as unhas, a pôr-te bonita e a festejar, porque, como penso que Emma Goldman disse uma vez, 'Se não puder dançar, não quero fazer parte da vossa revolução'.
E, por fim, perceberás com uma certeza absoluta que apenas uma coisa é mais assustadora que falar a tua Verdade — não falar."
por Vanessa Assunção
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