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:: Mercúrio retrógrado em Escorpião oposto a Úrano — A Escolha Individual

— Distopia ou Utopia?




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E eis que chegamos ao cerne das questões todas deste ano. Eis que se abre a porta para confrontarmos os carcereiros dentro de nós. E quais são eles?


Pois mais uma vez, é essencial perceber quem eles são. E porquê?


Porque senão percebermos acabamos aos "tiros" na rua à luta com projecções. Ou seja, fantasmas.


E depois a adrenalina passa e estamos no mesmo sítio que antes, só com umas nódoas negras a mais na coleção, e prontos para mais uma volta ao carrossel.



Mercúrio retrógrado fez ontem a segunda de três oposições exatas a Úrano em Touro. Pela natureza desta oposição entre a Mente Lógica e o Inconsciente Individual em signos fixos, é claro que a palavra de ordem é Confrontação.

A terceira e última será no próximo dia 17 de Novembro, com Marte já direto em Carneiro por essa altura, e entalada entre uma Lua Nova em Escorpião e o ingresso de Vénus nesse Signo.

Ou seja, os Jogos já começaram e começam a aquecer.


Acontece que essa dita confrontação não é apenas uma confrontação emocional de Água — quando falamos do eixo Touro-Escorpião, somos introduzidos à Accountability.


Na sua tradução simplista, este termo significa Responsabilidade, pois não há palavra em português que a traduza fielmente. No entanto é uma variação específica quem tem raíz na palavra account. Ou seja, tem inerente a ideia de prestação de contas a alguém. É uma palavra usada naquele idioma quando a responsabilidade, ou falta dela, implica consequências que vão para além da esfera individual e advêm de agirmos sobre um espaço pessoal alheio ou comunitário.


Trocando por miúdos, uma coisa é eu ser irresponsável com os meus assuntos pessoais, outra coisa é eu ser irresponsável com os direitos e integridade dos outros.


É muito fácil perdermo-nos nas nossas narrativas de vitimização pessoal, projectarmos a insatisfação que paira nas nossas dinâmicas emocionais nos outros, assumindo de alguma forma que alguém tem de ouvi-la e suportá-la só porque temos o direito a ser. Ou porque não queremos encarar o facto de que só nós próprios podemos resolvê-la.


Andamos pelo mundo cheios de dor, de revoltas, de birras. Muitas delas (se não a maioria) devidamente justificadas. Mas a questão vai bem para além disso. O facto é que, mesmo sendo completamente válida a nossa zanga, despejá-la em cima de alguém ou ficarmos sentados a um canto à espera que alguém mude o nosso passado e desfaça o mal que nos foi feito é só inútil e infrutífero.


Não nos acrescenta nada. Nem a nós, nem a ninguém.



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Eventualmente haverá um dia na nossa vida em que teremos de escolher o que queremos fazer com isso. Com a nossa estória pessoal. Com a nossa revolta.


E escolher não fazer nada é também uma escolha. Que é o direito e livre arbítrio de cada um.


Mas esse direito termina aí mesmo. Na nossa escolha. Não se estende ao julgamento ao outro. Não se estende à confrontação gratuita que mais nada procura do que chamar a atenção para a birra que foi escolhida. Não se estende a manipular emocionalmente alguém para alimentar o vazio que foi escolhido.


Porque aí começa o direito do outro.


E não vivemos todos já tão alerta para a propriedade material uns dos outros?


Se a minha escolha for não ter um carro porque o investimento necessário me dá imenso trabalho, é óbvio a qualquer pessoa (em princípio) que um dia destes que chova eu não tenho o direito de assaltar o carro de outro alguém e arrancar com ele, porque andar a pé ou de autocarro em dias de chuva é super desagradável.


Tenho de me aguentar na minha escolha, certo?


Então, se eu escolho não me encarar a mim e àquilo que tenho para resolver — que em última instância é um síndrome pós-traumático de qualquer ordem partilhado por toda a gente que habita este planeta nos tempos actuais — que direito tenho eu de vaguear pela rua, pelas plataformas sociais ou qualquer estrutura social ou comunitária a provocar, instigar ou reforçar traumas alheios?


E isto não se faz apenas com agressão física, ou verbal, ou psicológica, etc. Isto faz-se de forma transversal quando assumimos seja o que for em relação a outra pessoa, quando interagimos sem noção daquilo que carregamos e na maioria das vezes procuramos ver nos outros.


E procuramos ver os perpetradores originais dos nossos traumas.

Queremos olhar para qualquer pessoa que se cruze connosco, fingir que essa pessoa é aquela que nos feriu no passado e ralhar muito com ela.

Dizer-lhe que ela é tudo o que se passa de mal no mundo.

Atribuir-lhe o abandono ou rejeição que sentimos há tanto tempo, que alimenta essa compulsão, que quer ser vista.

Incutir-lhe culpa dissimulada para afagar a vitimização que foge à tomada de decisões difíceis.



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imagem no Pinterest


Ou pregamos-lhe ideais revolucionários e/ou facciosos carregados de raiva vazia, que nada mais são do que os gritos disfarçados das frustrações que carregamos por sermos rejeitados pelos grupos aos quais nem pertencemos naturalmente.


Ou simplesmente atacamo-la porque se nós sofremos, então os outros também precisam saber o que a vida gasta.

E podemos chegar até a vangloriar isto como uma forma muito "honrada" de seleccionar os mais fortes ou os mais inteligentes, aqueles que merecem a nossa validação pela sua resiliência ao abuso (já tive a sorte de conhecer em primeira mão um par de vezes) — ou seja, aqueles que são à Nossa Imagem, como deus faz no dia do juízo final.


E depois viramos costas um bocadinho mais aliviados, até à próxima pessoa que fizer disparar esses padrões inconscientes ou ameaçar o conforto da negação. E vai mais uma rodada.


Acontece que isto não só nos resolve nada cá dentro, como continua a construir uma neurose e confusão coletiva que só repete o passado.


Por vezes pode aparecer um ligeiro peso, que temos a sensação de estar na consciência, mas rapidamente o afastamos com justificações na ordem da necessidade de confrontar os "outros" ou no direito de receber apoio de alguém que pode estar já a processar as suas coisas e não tem espaço para receber mais nada ou até que foi o outro que confundiu as "coisas".


Porque nisto do desabafar, também é preciso pedir licença. Como em tudo o resto.


Esquecemo-nos que os "outros" têm também direito a viver a sua vida como escolhem e que, por vezes, isso implica não serem atacados gratuitamente por nós, que escolhemos viver na dor.


Por vezes, eles podem já ter escolhido assumir responsabilidade pela sua quota parte e o direito de não serem invadidos, agredidos ou manipulados enquanto andam nas suas vidas.



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por André Tecedeiro (via @opoemaensinaacair)


Mais que isso, esses "outros" que escolheram o "difícil" caminho de se resolverem a si próprios para saírem daquela neurose, a certo ponto percebem que, para além de terem o direito de não aceitar agressão gratuita nas suas vidas, têm igualmente o direito a defenderem-se dela.


Esses outros já aprenderam, com muitas idas ao tapete, que a passividade e a permissividade são apenas outras facetas desses mesmos padrões de violência dissimulada. São apenas a ponta oposta do espectro psicológico do sado-masoquismo.


Nesse caminho solitário de auto-responsabilização, vão aprendendo que agressividade é diferente de assertividade, que a confrontação é diferente de provocação, que a batalha é diferente do desafio e que só vale a pena investir emocionalmente nos desafios que são criativos. Criativos para eles. Criativos para os outros. Sobretudo os criativos para o grande coletivo que ultrapassa a Humanidade — todo o ecossistema global e a Vida em si.


E isso começa com a confrontação pessoal, com o dar nome aos traumas pessoais e definir limites pessoais. Perguntarmo-nos que passos podemos dar para curar o nosso trauma.


Que passos posso dar para curar o meu trauma?


Porque a parte mais difícil é perguntarmo-nos o que podemos fazer por nós que os outros não conseguiram fazer no passado.


E se parecer muito e a escolha for a Distopia, então que o faça na minha casa, com quem fez a mesma escolha que eu.


Porque no final do dia, está cada um por si mas ninguém está sozinho.




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imagem @lofi_aesthetics

Texto por Vanessa Assunção



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