:: Vénus em Caranguejo (07.08 - 05.09) — parte 1/3
- Vanessa Assunção
- 14 de ago. de 2020
- 6 min de leitura
— A Dança da Intuição e o Ponto Sem Retorno
No início do mês de Agosto, Vénus ingressa o signo de Caranguejo depois de um trânsito mais longo que o normal pelo signo de Gémeos, onde fez a retrogradação que fechou um ciclo de 8 anos.
Depois deste processo intenso de desconstrução das estruturas mentais que têm sustentado as dinâmicas venusianas nos últimos oito anos — pela revelação das ilusões auto-sustentadas cada vez que nos forçamos a aceitar aquilo que não queremos, e da consequente re-estruturação daqueles que são os nossos valores pessoais — Vénus inicia agora um processo de renascimento emocional que culminará na sua emancipação quando ingressar em Leão em Setembro.
O rompimento com as dinâmicas de co-dependência e auto-sabotagem emocional, que foram trazidas à superfície com Vénus retrógrada em Gémeos e Mercúrio em retrogradação por Caranguejo (acompanhados pelos três eclipses no eixo de Caranguejo-Capricórnio) — e que se processou em dinâmicas onde sentimos que a intensidade das emoções era mais forte que o nosso poder de ação assertiva — vai tomar agora uma forma mais expressiva com a entrada de Mercúrio em Leão e de Vénus em Caranguejo.

O 4º Arquétipo do Zodíaco — a Água Cardinal
Caranguejo é o signo Cardinal da trindade de Água no zodíaco natural. Este é o elemento que regula o movimento emocional na nossa psique, através do qual ocorre a nossa evolução. Por muito que nos foquemos nos elementos mais práticos e racionais, a verdade é que é através das emoções que ocorre a transformação e evolução no percurso da nossa alma.
Na sua habilidade de se adaptar, dissolver, infiltrar e alterar a forma daquilo que toca, a Água forma-nos e molda-nos com o seu movimento. Ela ocupa naturalmente os espaços mais profundos, criando rios que nos atravessam a Alma, criando trilhos emocionais — desenhando a paisagem da nossa sensibilidade.
Na astrologia, a Água assume várias formas, possivelmente mais que qualquer outro elemento. Tem a capacidade de mudar de forma, mas não deixando de ser algo tangível. Pode mover-se violentamente ou tranquilamente, pode emergir em ondas ou ir tão profundamente como os grandes lagos. Pode ser quente e nutridora ou fria e implacável.
Como ela se move na natureza é como se move através do zodíaco e da nossa experiência como seres espirituais na forma Humana. A Água é considerada uma forma de energia Yin — ou seja, de qualidade Feminina, e é o elemento sustentador do nosso corpo físico e do nosso planeta. No entanto, é também o elemento da Morte e da Transformação — ela carrega o Ciclo da Vida.
Começando com Caranguejo, a sua expressão Cardinal inicia-nos ao fluxo da Vida. Aqui, temos a nossa primeira experiência emocional nutridora, onde nos sentimos acolhidos e suportados. E aqui temos também acesso à Sabedoria Ancestral que trazemos do Passado.
Ao experienciar Caranguejo, estamos a aprender como Sentimos, como expressamos esses Sentimentos e em que circunstâncias é seguro Sentir. Estamos também a aprender a reconhecer a comunicação que não usa palavras e a distinguir o que é aceite ou suportado e o que é perigoso ou doloroso.
(excerto traduzido e adaptado de @nicograe)
Este arquétipo fala-nos de Ritmos Naturais e ensina-nos a respeitar o seu tempo. Ele fala-nos também do campo emocional como o tecido que nos conecta uns aos outros. E então ensina-nos que a Conexão que é o potencial da partilha emocional, precisa de acontecer ao seu ritmo, e esse ritmo é único para cada um de nós. Quando existe medo associado a esse processo, é fácil entrarmos em mecanismos automáticos de controlo e protecção — para os ultrapassarmos é necessário espaço e tempo, é necessário deixar que a Vulnerabilidade aconteça quando criamos os espaços seguros.
Com o apoio do seu oposto polar, Capricórnio, ele aprende que esses espaços seguros para partilhar em vulnerabilidade são criados através do estabelecimento de Limites pessoais, do assumir em Responsabilidade as implicações das nossas emoções e a sua origem e da Disciplina de investirmos neles (i.e. a disciplina de aparecer e comunicar a nossa parte para que esses espaços se mantenham seguros).
Regido pela Lua, o signo Caranguejo representa o espaço em nós onde criamos o nosso sentido de identidade com base nas experiências do passado, ele guarda a memória emocional das nossas relações e faz a ponte entre o passado e o futuro em cada momento.
A sua intenção evolutiva como arquétipo é ensinar-nos a sentir e criar os nossos limites pessoais mais primários — a sentir e respeitar o que é a segurança usando a nossa intuição e as nossas respostas emocionais. Ele é aquilo que somos quando estamos sozinhos, aquilo que nos nutre, que nos cura, que alimenta a nossa Inocência e que sustenta a nossa Vulnerabilidade.
Na sua expressão mais criativa, Caranguejo cuida, acarinha, protege e ampara. Mas para que essa Espontaneidade possa ser sustentada, é necessário que ele conheça os seus limites e esteja atento aos predadores que também fazem parte do mundo lá fora.
Por ser a memória emocional do passado, a água que vai nutrir a Identidade, ele transporta também as impressões de traumas e feridas dos primeiros encontros com esses predadores, para além das sensações de prazer e pertença que sentimos com os nossos cuidadores.

Aqui, as primeiras memórias da infância, a herança ancestral e os padrões emocionais das primeiras relações, misturam-se e formam o cimento que junta todas as partes do Eu que vão formar o Ego. E muitas vezes, sem sabermos bem porquê, damos por nós com medos e inseguranças a dançar nas nossas relações presentes, cuja origem nem nos lembramos. Fragrâncias de abandono e rejeição acabam a pairar sobre nós, mesmo quando as pessoas que temos diante de nós nunca nos deram razões para o sentir. Frases que ficaram gravadas e associadas a certas emoções no passado saem-nos da boca sem passar pela cabeça, e damos por nós a personificar papéis alheios.
Desenvolver a Inteligência Emocional é um passo vital para não nos afogarmos neste elemento. É a base que permite recolher o maior potencial dos signos de Água e, em última instância, a atingir a Redenção prometida por Peixes. E é em Caranguejo que ela deve começar — no voltar atrás ao nosso núcleo mais tenro, mais inocente e mais vulnerável. Relembrar aquilo que nos fazia mais felizes na infância, o que nos fazia perder a noção do tempo e aquilo que nos acalmava. Visualizar essa Criança, perceber o que ela precisava e o que lhe faltou e tomar a decisão de fazer por ela esse trabalho, de lhe dar e permitir aquilo que os adultos não conseguiram na altura.
O ingresso de Vénus em Caranguejo — principais aspetos
Com Vénus a ingressar em Caranguejo a fazer uma semi-quadratura ao Sol aos 16º de Leão, será inevitável sentirmos que chegou a altura de fazer uma Escolha, ao mesmo tempo que sabemos no nosso interior que estamos à beira de um Recomeço.

O contexto em que estes arquétipos funcionarem no nosso mapa pessoal irá determinar a forma como iremos experienciar o simbolismo de Encruzilhada que este aspeto revela. No entanto, é certo que essa escolha, mais ou menos urgente, implicará uma decisão acerca da nova Identidade que está a nascer dentro de nós.
Iremos basicamente perceber que esta escolha precisa ser bem digerida e não apressada, e que irá requerer uma reciclagem das aprendizagens que temos vivido, sobretudo desde que Jupiter ingressou em Capricórnio em novembro de 2019.
A inconjunção de Vénus aos senhores que ocupam o signo de Capricórnio, na altura do seu ingresso, e as posteriores oposições exatas que irão ocorrer mais para o final do mês, vão trazer para cima da mesa todas as vozes interiores que nos falam do passado e trazer-nos cara-a-cara com as narrativas que precisam de ser largadas.
A confusão emocional pode ser um desafio — a oposição àqueles em Capricórnio falam-nos do medo de largar as velhas estruturas; a quadratura à Lua no 1º de Carneiro fala-nos do medo de ficarmos sozinhos, o medo do abandono e o medo de não pertencer a nada.
Mas, a conjunção ao Nodo Norte aos 28º de Gémeos dita um ponto de não retorno e empurra-nos a largar tudo o que não ressoa com a nossa natureza, tudo o que asfixia o Natural (em nós e no coletivo). Pode ser um apertão, um encurralar que nos abre a Voz.
Ora essa Confusão, criada principalmente pelas vozes castradoras em Capricórnio, poderá ser resolvida se recorrermos à capacidade de nos vermos objetivamente pelos que somos e pelo que queremos, e aos outros também (Lua em Carneiro), e se conseguirmos ter uma perspetiva mais alargada daquilo que podemos fazer a longo prazo (semi-sextil a Mercúrio em Leão).
Esta configuração prenuncia uma fase de Digestão Emocional, de Combustão de Padrões Mentais e de Renascimento da Identidade Pessoal (a fase final do Renascimento de Vénus, lembram-se?). Será mais que decidir o que fazer com isto ou aquilo, será o decidir do que fazer à Vida e que parte de nós tem de passar ao próximo nível.
[a continuar na parte 2/3]
por Vanessa Assunção
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